Investigar a cultura de um povo de forma artística e traduzir esta expressão em dança e música sempre foi o intuito DE INÚMEROS ARTISTAS BRASILEIROS na elaboração de seus shows. É uma tarefa geralmente ingrata num país onde a indústria cultural aposta na mesmice e no populismo musical para alavancar suas vendas. Os organizadores do Festival da Primavera de Divinópolis acreditam na presença de um caráter mineiro, de um mineirismo, ou para ser atual, de uma mineiridade implícita e característica do povo mineiro. Desta maneira, a pesquisa das atrações parta o evento desse ano procura investigar em algumas manifestações folclóricas existentes no estado, as origens, os usos e costumes existentes nas músicas, folguedos e danças que fazem parte da expressão cultural mineira e que tradicionalmente são representativos de um significado na postulação de uma identidade cultural do povo mineiro.
O Estado de Minas Gerais apresenta, segundo MARTINS 1991, 46 Micro-regiões e 10 unidades culturais. Esta distribuição não encontra unanimidade na bibliografia sobre o assunto. No site da Secretaria de Turismo do Estado de Minas, http://www.descubraminas.com.br encontramos outra distribuição das regiões culturais, que divide o estado em 06 regiões culturais, a saber: São Francisco, Mineração, Café, Zona da Mata, Triângulo Mineiro e Nordeste, a mesma utilizada pelo Atlas de festas populares do estado de Minas Gerais, do Instituto de Geociência aplicada – IGA, do Governo do Estado de Minas Gerais, de autoria da Professora Deolinda Alice dos Santos.
A despeito do intuito didático de tais delimitações, deve-se fazer a ressalva de que talvez se trata de uma tentativa de circunscrever algo relativamente indelimitável. Além disso, aspectos culturais transcendem as fronteiras políticas do estado. A incorporação de tantos elementos faz de Minas, portanto, uma espécie de celeiro cultural. Nota-se marcadamente, na pretensa cultura mineira, influências oriundas de diferentes povos, o que proporcionou muitos tipos de “mineiridades”, dotando o estado de manifestações únicas e típicas, e uma extrema diversidade entre as suas próprias regiões.
Destaca-se também na história de Minas Gerais uma forte influência na intenção de formação do Brasil como nação. Estima-se que a colonização e a descoberta do ouro e dos diamantes trouxeram para as terras mineiras cerca de meio milhão de pessoas, em uma das maiores migrações registradas na história do país. As quantidades de minérios e de ouro extraídas entre 1700 e 1800 foram superiores a tudo o que havia sido produzido anteriormente no mundo, incluindo as minas do Rei Salomão.
Pode-se dizer que o início do processo de construção de uma nação brasileira se deu a partir da descoberta do ouro em Minas Gerais, já que muitas pessoas, de todas as procedências e de todas as partes da colônia, vieram para cá em busca de desenvolvimento e riqueza. Essa situação gerou muitos conflitos de ordem social e política, reivindicações e protestos em relação à dominação portuguesa, além de lutas pela independência e pela consolidação da pátria brasileira, dentre os quais destaca-se o famoso levante colonial, a Inconfidência Mineira (feitas, certamente, as ressalvas quanto ao caráter elitista da mesma). A hipótese parece pretensiosa, mas relativamente plausível. Por outro lado, a noção de unidade da pátria brasileira também é questionável. De qualquer maneira, daremos continuidade à explanação dos argumentos históricos que concorrem para uma idéia de mineiridade.
Dentro do contexto mencionado, a exploração do ouro na região mudou drasticamente o panorama cultural, social e econômico da antiga província. Contingentes demográficos numerosos e diversificados, vindos de todas as partes da colônia, foram atraídos para as Minas Gerais dando ao país o seu primeiro surto migratório. Não eram mais os portos litorâneos ou os poucos arraiais isolados e usados apenas como pouso que chamavam a atenção do explorador, mas sim as riquezas do novo eldorado. Vindos de todas as regiões do país, os exploradores em busca do ouro traziam para as terras mineiras, a atividade produtiva das mais distintas partes da colônia.
Do Rio de Janeiro, que era o principal porto de saída do ouro, chegavam as mercadorias estrangeiras e mais escravos africanos; de São Paulo, saíam novas levas de bandeirantes em busca de minerais preciosos. Do extremo Sul, os tropeiros gaúchos, fornecedores de carne bovina e de muares usados no transporte; do Nordeste, os fazendeiros, trazendo da Bahia e de Pernambuco o gado e os produtos agrícolas; de mais longe ainda, os curraleiros do Maranhão, do Piauí e do Pará. Desta maneira, as áreas de mineração em Minas Gerais foram ponto de confluência de pessoas proveniente de diferentes partes da colônia e da África, que, atraídos pelas riquezas do novo eldorado, possibilitaram o desenvolvimento de uma cultura marcada pela diversidade e pela constituição do tipo mestiço, tido por alguns como, nas devidas proporções, como “verdadeiramente” brasileiro.
Foi também inegável a contribuição dos imigrantes portugueses, cujo legado trouxeram do Portugal agrário, de aldeias pequenas e pobres, sem qualquer mediação com a vida urbana. Trouxeram consigo valores tradicionais de festas em louvor a santos, do culto à vida doméstica e do apego ao patriarcalismo, implantando-os em terras mineiras. O conceito da tradicional família mineira estaria ligada a esses aspectos patriarcais e na defesa das mulheres de aventureiros que se atiravam no solo das Minas. O autor postula, assim, que graças ao ouro das terras mineira que ocorreu o milagre da integração brasileira num evidente contraste com o que se passava no lado hispânico do continente, pulverizado em dezenas de nações.
Outro fator preponderante na formação cultural do estado mineiro foi a presença da Igreja Católica. De acordo com DIAS, 1971, em Minas Gerais o catolicismo assumiu a forma contra-reformista que, apoiada na pompa e na ostentação, pregava a elevação do espírito a Deus. Diversas manifestações culturais existentes atualmente nas terras mineiras surgiram no embate entre a religião e o poder do ouro. As maiores heranças desta época são as riquíssimas igrejas e esculturas talhadas em ouro e pedras preciosas, dedicadas ao encontro do espírito com o divino e as festas existentes no estado que homenageiam santos padroeiros. Impregnado de elementos riquíssimos, o ritualismo marcava todas as manifestações comunitárias. Pode-se verificar, por exemplo, através do pagamento de promessas, cantigas, danças, músicas, orações, levantamento de mastro para homenagear os santos padroeiros e os belos cortejos com as suas características próprias. Temos em vista, enfim, que a história consiste também em releituras do passado e apenas a elas temos acesso.
Muito bom o texto.
ResponderExcluirEncontrei justamente o que queria saber, quantas e quais são as regiões culturais de Minas.
Além de outras informações preciosas, parabens ao autor.
eu nao encontrei o que procurava , mas seu texto nao foi ruim
ResponderExcluirTo com preguiça de le!Alguem resume pra mim?:-P
ResponderExcluirchupa meu pau resumido
ResponderExcluir